A importância de LER na sociedade dos nossos dias
Pois é, as Feiras do Livro de Lisboa e Porto já arrancaram. Durante os próximos dias, nas duas maiores cidades do país vamos assistir à festa do livro e da leitura, uma oportunidade sempre interessante para cativar quem ainda navega muito longe da magia dos livros... mas... pergunta o leigo: porquê só em Lisboa e Porto? Porque não se aproveita esta data para que em simultâneo, por todas as capitais de distrito, se realizarem eventos semelhantes? Porque se fala tanto em descentralização, mas se continua a pensar que Portugal é só Lisboa e Porto?... e... já agora, quando teremos uma feira do Livro de nível em Setúbal?
Neste momento, interrogar-se-á o leitor: “Com tantos problemas graves, hiper graves, imensamente complexos, dolorosos, dramáticos, poluentes, e marcantes que afectam o nosso quotidiano social, vem este tipo falar-nos de livros e leitura... como se eu tivesse tempo para isso... quando chego a casa estou tão cansado/a que só me apetece é estender no sofá e relaxar... e depois eu até leio jornais e algumas revistas... o tipo devia era falar dos problemas da nossa terra, do nosso distrito, dar aí bordoada nesses presidentes e vice-presidentes, nesses que prometem mas depois... pimba... chapéu para a malta... nesses armados em doutores que lixam sempre o pagode... isso é que era um artigo interessante, não é lá esta mania cultural... que é muito bonita, muito bonita, mas não enche a barriga”.
Pronto... têm razão, o artigo da bordoada fica prometido para a próxima crónica, mas se falo de livros e de leitura é porque também acho este tema muito importante e decisivo em termos do nosso desenvolvimento humano e qualidade de vida.
Ganhar o gosto pela leitura é como provar o vinho pela primeira vez, ao principio parece-nos amargo, mas depois habituamo-nos ao gosto e... passado algum tempo, quem não sente um enorme prazer em saborear um bom cálice de vinho?... ora, com a leitura é a mesma coisa, quando estamos a iniciarmo-nos, ler um livro faz-nos sono, não temos muita paciência, não temos tempo, etc, etc, etc, mas depois de ganharmos o hábito de ler, então olharão o “livro” como uma paixão, uma necessidade, uma companhia, um amigo inseparável, enfim como um hábito de que não podemos nem queremos fugir.
Ganhar o gosto pela leitura é comentar desolado com o colega do trabalho: “Bolas!, esta semana não consegui ler nada de especial”... como quem se lastima de não ter tido tempo para ver TV, ou praticar um hobbie ou uma actividade que lhe dá imenso prazer.
E quanto necessitamos nós de ler, principalmente os nossos jovens, que independentemente de viverem na BIG sociedade da informação e do conhecimento, infelizmente chegam às universidades, com graves lacunas de vocabulário, de construção de frases gramaticalmente correctas, de cultura geral e principalmente apresentando uma grande lacuna de SONHO...
E quanto necessitamos nós de ler, principalmente os nossos jovens, moldados por uma sociedade “made by TV”, que longe de individualizar e de potenciar o que cada um tem de melhor, tiraniza tudo e todos numa perspectiva de “cidadão robot” ou se quisermos ser mais mauzinhos, podemos então usar o velho conceito de “MASSA”.
A Sociedade do consumo desenfreado adora a “Massa”, adora controlar, estimular e potenciar os hábitos de consumo e de lazer, sobretudo adora generaliza-los, torna-los iguais, criar as novas necessidades para as vender.
Hoje em dia vive-se para consumir, passeia-se nos centros comerciais e luta-se não por um enriquecimento pessoal, paz, tranquilidade, convívio e qualidade de vida, mas por adquirir mais um novo produto que chegou ao mercado e que supostamente nos vai fazer mais feliz.
Ler um livro na sociedade em que vivemos é lutar contra o “zaping” da nossa existência, contra o contra-relógio do quotidiano, contra todas as fast-foods e fast-life que nos querem impingir.
Ler um livro na sociedade em que vivemos é lutar por encontrar a calma, a paz e a serenidade que ganhamos ao passar doce e calmamente mais uma página, é enriquecer constantemente a nossa cultura, o nosso mundo interior, é dar espaço ao sonho, à magia, à procura do nosso tão nobre e individual EU.
Ler um livro na sociedade em que vivemos é lutar por uma juventude mais idealista e menos material, mais sonhadora e menos consumista, mais humana e menos robot.
Os livros ajudam-nos a crescer, a conhecer, a pensar, a interrogar, a duvidar, a sentir, a viajar pelo mundo, a viver e conviver com as mais diferentes culturas e etnias sem sair do nosso lugar.
Numa sociedade em que nunca a informação foi tão vasta e acessível, vale a pena interrogar porque nesta “cultura da pressa” nunca aprofundamos nada, nunca passamos das manchetes e dos cabeçalhos, nunca tentamos VER os dois dados da moeda, nunca nos dão tempo para REFLECTIR.
Caro leitor experimente o prazer de ler para além das curtas linhas dos jornais e das revistas, e se pensar que não tem TEMPO para isso, experimente faze-lo nos transportes, à noite antes de adormecer, na espera para a consulta, na paragem do autocarro, na salinha do barbeiro, cabeleireira ou esteticista... pois é... passamos tanto tempo à espera... tanto tempo com tempo... e... vai ver que a viagem vai demorar menos, que o stress diminui, que dorme melhor e que enquanto os outros olham sofregamente para o relógio, você sorri encantado por se ter deliciado com mais uma passagem.
Caro leitor, na minha opinião, ideia de uma semana ou quinzena nacional do livro é essencial para promover a leitura em grande escala, por isso sugiro que Setúbal dê o exemplo e realize também uma feira do livro coincidente com as de Lisboa e Porto.
Já sei o que está apensar... que os editores e os livreiros não têm capacidade para estar em todas as capitais de distrito em simultâneo, mas então que a promovam as livrarias e que estes eventos sejam realizados em espaços amplos, de preferencia jardins, onde se possa comprar, ler, conviver, petiscar... enfim... “um espaço com tempo para SER e para LER”.
29 de maio de 2010
educando
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